Bargapo entrou na oficina. Olhava para Zeh enquanto passava a toalha sobre a cabeça, enxugando os poucos fios de cabelo, ainda molhados. Mais uma vez o menino se encontrava com uma cara de besta, diante do sorriso sádico do velho. Tudo que queria era estalar o dedo e sumir da oficina. Seu rosto ainda estava quente pela vergonha que estava passando.
- Não esquente. meu rapaz. Essas coisas acontecem. Não foi a primeira vez. Quando esse galpão ainda estava na lista de oficinas para aprendizagem dos alunos da Vila, toda semana eu dava um flagra assim. Meninos são curiosos.
Zeh puxou a cadeira ao lado da escrivaninha e sentou-se. Colocou os cotovelos sobre os joelhos e as palmas das mãos sob o queixo. Queria prestar atenção no que o velho estava dizendo. Sentia-se mais calmo. Bargapo sabia como fazer uma pessoa se sentir aliviada. Tinha aparência de durão, mas era muito simpático. Aquele tom rouco da voz lhe fazia bem. O velho continuou.
- Também já fui muito curioso, quando jovem. Acho a curiosidade fantástica. Mas só vale a pena quando é usada para coisas boas, como aprender e descobrir coisas novas. Quando os alunos chegavam aqui, viviam mexendo nos meus bagulhos. Eu até entendia. O povo lá de fora tem muito papo furado, dizem o que não sabem ao meu respeito. Criaram uma lenda, acho que é isso.
- É verdade. Dizem muitas coisas. Mas não estou aqui por causa de lendas. Sei que você foi muito amigo do meu pai. Ele gostaria de me ver aqui.
- Sim, seu pai era um irmão pra mim. Me ajudou várias vezes. Juntos, descobrimos muitas coisas. Pode ter certeza que a nossa curiosidade foi usada para aprender.
Pela primeira vez no dia, havia um diálogo na oficina. Os dois passaram alguns minutos jogando conversa fora. Logo depois, Zeh voltou à guilhotina para terminar sua tarefa. Bargapo foi para o outro lado finalizar a escada que entregaria de tarde.
Ficaram em silêncio, concentrados. O velho não se agüentou, ele sabia do menino mais do que imaginava.
- Você sabe que tem muito mais pra descobrir aqui, meu rapaz. Seu pai era um gênio, você está me saindo a cópia. Trouxe a bendita chave?
Zeh parou de cortar o pedaço de folha pela metade e levantou a cabeça. A mão ainda segurava a régua afinada.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
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2 comentários:
muito bom esse capitulo!
quem ja foi flagrado sabe que é assim msm a reação, vontade de sumir,cospir e sair nadando, pedir pra cagar e ir embora, uhauahu
mais, e agora? o que a chave abre heim? esperando o 13!!
abraços
Esse velho sabe das coisas. Gostei do lance sobre a criosidade...
Zeh eh um juvenil afoito isso sim, mas perigoso � o homem qe nunca errou neh!!
q venha o 13!
abr�
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