Naquela noite, logo após o encerramento da cerimônia na residência 27, Seu Oristides recebeu um chamado do mensageiro da Casa de Manutenção. Ele não teve escolha, teve que atender e sair imediatamente. O menino mais uma vez se via na situação que tanto detestava. Sempre que Zeh aproveitava as poucas horas de lazer com o pai, algo acontecia para atrapalhar. Não foi diferente no momento em que mais se esperava de um pai. Era seu aniversário, o dia dele. Mas, mesmo assim, Zeh não se manifestou. Continuou com o mesmo semblante tranqüilo de sempre. Foi dormir inquieto mas ao mesmo tempo com um pouco de raiva do pai. Ele lhe devia explicações sobre o presente. Não podia esperar mais uma hora sequer.
A represa na qual Seu Oristides trabalhava era antiga, com mais de 70 anos de existência. O maquinário se encontrava em estado totalmente precário e quem fazia tudo ali funcionar era a experiência e a inteligência do pai de Zeh, que colocava em prática tudo que o avô do menino lhe ensinou durante a infância com a ajuda do brincalhão “Tio Meirias”, seu assistente. Parecia genética, mas até que era engraçado como aquela família seguia sempre a mesma linha. Primeiro o avô, segundo o pai e agora o menino. Todos estes tinham a personalidade idêntica. Aparência bondosa, de fala devagar e com uma inteligência fora do normal, pelo menos para os padrões da Vila Amargo. Zeh era conhecido como o “gentil”. Todos achavam incrível a educação que o menino trazia de casa. Ele fazia questão em ajudar quem estivesse por perto, conhecido ou não. Na escola, a capacidade em aprender rápido fez dele um monitor, função que dava muito orgulho aos pais, que o viam pela janela da sala de aula com apenas 6 anos ensinando aos outros a escrever as letras do alfabeto. Mesmo assim, a Vila toda sabia que a “herança” de administrar a represa ficaria com o “gentil” e que, seguindo a tradição da família, ele tomaria o cargo do pai quando aposentasse e passaria o resto da vida cuidando da “Casa de Manutenção das Águas”. Nos fins de semana, Zeh e seu pai saiam de casa cedo. Os dois vestidos com macacão azul e maleta de ferramentas nas mãos. Enquanto criança, Zeh adorava aquele ritual e se achava o tal dentro daquela roupa que sobrava nele. Depois de não ter mais nada para pensar, ele adormeceu. Passava da meia noite, não era mais o seu dia. Duas horas depois ele foi acordado com um susto. Em um pesadelo, Zeh se encontrava com 14 anos. Corria entre corredores estreitos e sem luz. Quando virava a esquina de um deles, dava de cara com uma mão que lhe acertava a testa. Estirado no chão, viu uma chave grande cair em um buraco e fazer um ensurdecedor barulho metálico. Aquele som o fez acordar suado e assustado.
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
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3 comentários:
Tô acompanhando, heim?! ;o)
Ai aiaia!!!
Esse Zeh ainda me mata de ansiedade!
Tadenhoo do Zeh...tb odeio pesadelos... é um saco :/
Mas...o Zeh jjá não está quase me deixando dormir oras...eta curiosidade kkk!!
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